CEFP Realiza Sessão de Estudos Coletivos com Obra de Mao Tsé-Tung
- coletivoestudantil
- 24 de mai.
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No dia 24 de maio, o Coletivo Estudantil Filhos do Povo (CEFP) realizou sua segunda sessão de estudos coletivos, reunindo cerca de 30 participantes — entre estudantes secundaristas, universitários e trabalhadores — para o debate da obra Sobre a Prática (1937), de Mao Tsé-Tung.
A sessão foi iniciada com o canto de A Internacional, hino histórico do proletariado mundial, símbolo da unidade dos trabalhadores e da luta contra toda forma de opressão e exploração. Ao final, entoou-se o canto Conquistar a Terra, expressão viva da resistência e da esperança revolucionária do povo brasileiro em sua jornada por libertação nacional.
Durante a atividade, os participantes aprofundaram o estudo sobre a centralidade da prática na produção do conhecimento, conforme formulado por Mao Tsé-Tung. O coletivo debateu como essa concepção rompe com o academicismo burguês e reafirma que é na experiência concreta, na vivência direta das contradições da realidade, que se forja o verdadeiro conhecimento. A partir disso, foram discutidas as implicações dessa orientação para a luta revolucionária, com destaque para o papel da organização estudantil enquanto instrumento de mobilização, politização e organização das massas para a transformação radical da sociedade, assim como instrumento de agitação e propaganda em torno da revolução brasileira.

Foram debatidas questões como o papel da juventude secundarista nas lutas populares, os limites e possibilidades da atuação dentro das escolas e universidades, e a necessidade de vincular a produção científica aos interesses das massas e à construção de uma ciência nacional, popular e revolucionária.
Ao final desse texto, será apresentado uma pequena análise crítica escrita pelo próprio Coletivo, sistematizando as reflexões do estudo e reafirmando o compromisso com uma linha política fundamentada na unidade entre teoria e prática, como condição de construção de um poder verdadeiramente popular.

Análise do Coletivo Estudantil Filhos do Povo sobre o texto “Sobre a Prática”:
A obra Sobre a Prática (1937), de Mao Tsé-Tung, é uma das formulações mais potentes do materialismo dialético sobre a relação entre conhecimento e prática. Escrita no calor da luta revolucionária chinesa contra o imperialismo japonês e as forças feudais internas, não constitui apenas um simples tratado filosófico generalista, mas de uma arma teórica forjada a partir das necessidades concretas da revolução chinesa, servindo a revolução proletária mundial.
Após a violenta repressão aos comunistas em 1927, Mao Tsé- Tung refugiou-se com seus camaradas e massas revolucionárias nas montanhas de Jinggang, iniciando a guerra popular prolongada na China, que duraria 22 anos. A “Longa Marcha”, entre 1934 e 1935, consolidou sua condição de chefatura do Partido Comunista Chinês. Durante esse percurso, o exército dirigido pelos comunistas conduzia a revolução agrária e organizava o povo em torno do Novo Poder, mobilizando, politizando, organizando e armando as massas básicas do país.
Ao aplicar a ideologia científica do proletariado na realidade concreta da luta de classes na China, Mao produziu um salto qualitativo na mesma. Entre 1936 e 1940, escreveu textos fundamentais, como Sobre a Prática, em que sistematiza a concepção marxista da relação entre teoria e ação – uma reflexão teórica produzida no calor do momento, na e para a revolução, expressão concentrada dessa própria revolução em curso. A práxis foi, para Mao, a escola do povo e o critério da verdade e, foi com base nela que, em 1949, liderou a vitória sobre o Kuomintang e proclamou a República Popular da China.
Mao parte da tese marxista de que o conhecimento resulta da prática social concreta – definindo-a como produção, da luta de classes e da experiência científica. O conhecimento sensorial (percepção e intuição) é o primeiro estágio que, ao ser sintetizado racionalmente, transforma-se em conhecimento lógico (conceitual). Esse conhecimento lógico, por sua vez, só adquire valor real se retornar à prática — agora como guia para a transformação da realidade – constituindo-se dois saltos dentro do mesmo processo, sendo o segundo o mais importante.
Na universidade brasileira, hegemonizada por diretrizes liberais, reprodutoras e conformistas quanto a ideologia dominante, o processo do conhecimento é cindido por contradições. A produção científica é incentivada não pela necessidade social ou pelo compromisso com o povo, mas por editais, rankings e currículos Lattes. A juventude é induzida à passividade, ao academicismo estéril e à separação entre teoria e prática.
“A universidade ergue muros cada vez mais altos, distanciando-se das tensões sociais de nosso tempo no processo contínuo de sua privatização. Finge não ver a luta de classes — e muito menos o povo pobre do nosso país. As salas de aula se assemelham a mausoléus sombrios: sem calor, sem disputa real, sem luz. Quando há debates, estes frequentemente se reduzem a disputas por status ou cargos nas burocracias departamentais — um circo de vaidades e discursos vazios.
Prolifera o culto à inércia política e ao afastamento da realidade concreta. Uma das ideias mais disseminadas é a de um relativismo conformista, segundo o qual nada vale a pena, nada pode ser feito, e o melhor é nada dizer. Para corresponder aos planos de controle do conhecimento, impõe-se o modelo burguês de instrução, com currículos que desenvolvem um saber empírico, fragmentado e tecnicista, onde a especialização é totalmente dissociada da realidade do mundo e de sua transformação. Seguindo essa rota definida pelos interesses do imperialismo para os países dependentes, é “natural” que se produza e se estimule a inércia política e o estudante acrítico e conformado.
Para aplicar essa política mercantilista na educação, é necessário formar quadros profissionais que a defendam e a formulem com aparência de teoria. Por isso, tantos doutores da universidade atacam — ora abertamente, ora de forma sutil — o marxismo. Sabem que é justamente o marxismo que responde à vontade transformadora da juventude, que deseja estudar para servir ao povo, e não para se conformar com a realidade vigente. Sabem que é ele que afirma que o conhecimento só se realiza plenamente quando vinculado à transformação da sociedade. Por isso, investem pesado desde o primeiro período para arrancar da cabeça dos estudantes toda a curiosidade — quando não a simpatia — que a imensa maioria nutre pelo marxismo.
A universidade precisa derrubar seus muros, polarizar os debates em torno das questões que afligem o povo e a sociedade brasileira.” (Derrubemos os muros da Universidade)
Nosso papel, enquanto estudantes comprometidos com a transformação radical da sociedade, é retomar a dialética entre conhecer e transformar, entre estudar e lutar. O estudo deve ser um momento da luta, e a luta, uma fonte de aprendizado.
Mao afirma com ênfase: “A prática social é o critério da verdade do conhecimento”. Tal concepção é um verdadeiro antídoto contra o espontaneísmo, o reformismo e o palavrório revolucionário que frequentemente infestam o movimento estudantil. Há quem se diga “revolucionário”, mas recusa-se a mergulhar nas contradições reais do povo e do cotidiano das massas mais profundas.
Em Sobre a prática, Mao ataca tanto o empirismo quanto o dogmatismo como duas formas de subjetivismo, como desvio geral do processo de conhecimento. Não basta “sentir” que algo é verdadeiro, nem repetir mecanicamente teses célebres — é preciso verificar tudo na prática viva da luta de classes. Ambos desvios convergem ao não concluir o ciclo do conhecimento, o “segundo salto” à prática, onde quaisquer deformações e inconsistências do pensamento sejam superadas por meio de uma síntese dialética.
Já nas Teses 2 e 8 sobre Feuerbach, escritas por Karl Marx no início do processo de sistematização de seu pensamento, há uma exposição de sua concepção materialista e prática do conhecimento e da vida social, sobre a qual debruçam-se Engels, Lenin e, sobretudo, Mao. As duas teses sustentam que o pensamento humano não deve ser julgado isoladamente, como uma pura abstração teórica, mas sim em sua inserção na prática concreta, histórica e social.
Na Tese 2 sobre Feuerbach, Marx afirma que a verdade do pensamento não se comprova na teoria, mas na práxis, ou seja, na ação transformadora do ser humano no mundo. O pensamento só é verdadeiro na medida em que produz efeitos reais, terrenos e verificáveis na vida prática. A separação entre teoria e prática, típica do pensamento escolástico, é assim denunciada como estéril e idealista:
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente escolástica. (Tese 2 sobre Feuerbach)
Já na Tese 8, essa ideia se amplia: a própria vida social é essencialmente prática, e todos os mistérios que a teoria idealista tenta resolver por meio de especulações místicas encontram sua solução racional na atividade humana concreta, no fazer, no agir coletivo e transformador. Ou seja, compreender a sociedade exige compreender a práxis humana:
A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis. (Tese 8 sobre Feuerbach)
A correlação entre ambas as teses está na superação da cisão entre teoria e prática: o pensamento só adquire validade no interior das relações sociais reais e concretas, e é a partir da prática — enquanto expressão da vida material e histórica dos seres humanos — que se pode compreender e transformar o mundo. Assim, para Marx, pensar é um momento da práxis, e não uma atividade separada ou superior a ela.
Para nós, do Coletivo Estudantil Filhos do Povo, a alternativa é clara: precisamos de uma prática científica popular, enraizada nas necessidades do povo e a serviço da construção de uma nova sociedade. Sobre a Prática nos ensina que o conhecimento não é neutro, nem espontâneo. Ele é forjado na luta, e deve retornar à luta como instrumento de libertação. Nosso estudo deve ser militante, voltado à prática, tendo como perspectiva a transformação do mundo.

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