Filhos do Povo celebram o 1º de Maio com a leitura do Manifesto Comunista
- coletivoestudantil
- 3 de mai.
- 6 min de leitura

No dia 3 de maio, mais de 30 estudantes, entre universitários e secundaristas, se reuniram para celebrar o 1º de Maio, Dia Internacional do Proletariado. A atividade teve início com o canto de A Internacional, hino histórico das lutas do proletariado mundial.

Em seguida, realizamos a leitura do primeiro capítulo do Manifesto Comunista, seguida de um rico debate sobre sua atualidade e vigência diante da realidade concreta da luta de classes em nosso tempo. Ao final, elaboramos uma breve síntese coletiva do estudo, com o objetivo de difundir e ampliar o processo formativo entre todos e todas.

Registramos uma saudação especial aos valorosos estudantes secundaristas, cuja presença não apenas fortaleceu o debate, como também trouxe contribuições decisivas, enraizando as reflexões teóricas na concreta realidade vivida por nossa juventude trabalhadora. A participação ativa desses companheiros e companheiras reafirma, com nitidez, a urgência de nos organizarmos coletivamente para transformar, de forma radical e profunda, o estado de coisas imposto pelo sistema capitalista.
Reafirmamos, assim, o chamado a todos os estudantes: somem-se às próximas jornadas de formação promovidas por nossa organização. Que esses espaços sigam sendo momentos de fortalecimento dos laços de solidariedade, forja da consciência revolucionária e construção de um projeto popular para o Brasil, no caminho da luta pela Revolução Brasileira.
Encerramos a atividade com o canto combativo do hino da Revolução Agrária, Conquistar a Terra, seguido de um lanche coletivo que celebrou a data como expressão concreta da fraternidade que nos une na luta.
Viva a Revolução Agrária!

O Manifesto Comunista: Síntese do debate do Coletivo Estudantil Filhos do Povo
O Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848 por Karl Marx e Friedrich Engels, permanece como um dos textos políticos mais decisivos e duradouros da História. Apesar de seu formato breve — apenas 23 páginas —, trata-se de uma obra monumental em seu alcance teórico e prático. Escrito às vésperas das revoluções europeias de 1848, o Manifesto surge em meio ao turbilhão do ciclo revolucionário burguês, em um momento em que a velha ordem feudal já havia sido profundamente abalada, mas ainda subsistia em diversas partes da Europa sob formas remanescentes de servilismo, absolutismo e estruturas agrárias arcaicas.
A publicação do Manifesto insere-se, portanto, em uma conjuntura de transição histórica: da dominação feudal para a hegemonia burguesa, da terra para o capital, do poder dinástico para a soberania parlamentar. Desde o século XVI, com o fortalecimento das monarquias nacionais, a expansão do comércio e a ascensão dos mercadores, a burguesia vinha se constituindo como classe dominante em formação. As grandes revoluções — a inglesa de 1640, a americana de 1776 e a francesa de 1789 — consolidaram o poder político dessa classe, com a destruição dos privilégios aristocráticos e a afirmação de novos princípios sociais: a propriedade privada, a igualdade jurídica e a liberdade de mercado.
As revoluções burguesas cumpriram, sem dúvida, um papel histórico progressivo ao liquidarem as formas sociais estagnadas do feudalismo. Elas instituíram, como afirma o próprio Marx no Manifesto, um dinamismo inédito nas relações humanas, dissolvendo "todas as relações fixas e enferrujadas" e lançando a humanidade num processo de transformação contínua. Contudo, como demonstram Marx e Engels, essas conquistas não representaram a emancipação universal da humanidade, mas apenas a substituição de uma forma de dominação por outra. A abolição da servidão foi seguida pela generalização da exploração do trabalho assalariado. A liberdade burguesa, baseada na propriedade privada dos meios de produção, revelou-se uma liberdade exclusivamente para os proprietários.
Como sintetiza Engels no Prefácio à Edição Alemã de 1883, o “pensamento fundamental que percorre o Manifesto” é o de que “a produção econômica, e a articulação social que dela com necessidade decorre, de qualquer época histórica forma a base da história política e intelectual dessa época”; e, mais ainda, que “toda a história [...] tem sido uma história de lutas de classes [...] em diversos estágios do desenvolvimento social”.
Essa concepção materialista da história, formulada por Marx com rigor e radicalidade, é a espinha dorsal do Manifesto. Contra as idealizações do liberalismo e as fantasias moralistas do socialismo utópico, Marx e Engels propõem uma análise científica do capitalismo como sistema contraditório, cuja própria lógica interna gera suas crises e engendra o sujeito de sua negação: o proletariado. A concentração de riqueza, a expropriação dos pequenos produtores, a crise de superprodução, o exército industrial de reserva e a internacionalização dos mercados são descritos no Manifesto como tendências objetivas do modo de produção capitalista — tendências que, levadas ao extremo, abrem a possibilidade histórica da revolução proletária.
Essa revolução, diferente das anteriores, não visa substituir uma classe dominante por outra, mas abolir toda forma de exploração. Engels é enfático: “esta luta [...] atingiu agora um estágio em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) já não se pode libertar [...] sem simultaneamente libertar para sempre a sociedade toda da exploração, da opressão e das lutas de classes”. A força do Manifesto reside, justamente, em sua dupla natureza: é, ao mesmo tempo, diagnóstico crítico e programa de ação.
Engels reconhece, ainda que reafirme a validade dos princípios gerais do Manifesto Comunista, os seus limites históricos e a necessidade de adaptação às circunstâncias concretas. No Prefácio à Edição Alemã de 1872, ele observa que, embora esses princípios conservem, em linhas gerais, sua plena correção, sua aplicação prática deve considerar as condições específicas de cada tempo e lugar. Ele admite que certas medidas do programa revolucionário de 1848 teriam sido formuladas de modo distinto após a experiência da Comuna de Paris de 1871 — a primeira vez em que o proletariado tomou o poder e tentou organizá-lo em benefício próprio. Essa experiência demonstrou que “a classe operária não pode simplesmente tomar posse da máquina de Estado [que encontra] montada e pô-la em movimento para os seus objectivos próprios”, evidenciando, assim, a necessidade de destruir o Estado burguês e construir novas formas de poder político proletário.
Essa visão internacionalista e profundamente dialética reforça a atualidade do Manifesto. Em um mundo ainda marcado pelas contradições estruturais do capitalismo, a análise materialista histórica de Marx e Engels conserva todo seu poder explicativo e sua força mobilizadora. O Manifesto Comunista, longe de ser um documento datado, continua a inspirar a crítica radical do presente e a luta por uma sociedade emancipada, sem classes e sem exploração. Sua mensagem essencial — de que “os proletários nada têm a perder a não ser seus grilhões” — segue convocando os oprimidos a transformar o mundo.
O marxismo não foi um processo arbitrário, mas uma necessidade histórica. Surgiu como expressão concreta da maturação das contradições do capitalismo e do nascimento de um sujeito revolucionário: o proletariado. Representou, na Europa, o aparecimento de um pensamento-guia da classe operária, que articulava teoria e prática em torno da superação da ordem burguesa.
Como sintetiza o brilhante texto De Karl Marx ao Marxismo – Luta de classes, luta de duas linhas e linha de massas: 'O pensamento de Marx era expressão ideológica da passagem do proletariado da condição de classe-em-si à de classe-para-si'. Ou seja, de uma classe que apenas existia objetivamente dentro das relações de produção, mas ainda não tinha consciência de seu papel histórico, para uma classe que reconhece sua posição, organiza-se politicamente e age coletivamente para transformar a realidade.
Neste 3 de maio, o Coletivo Estudantil Filhos do Povo (CEFP) realizou um estudo coletivo de uma obra imprescindível à formação crítica e à luta revolucionária, em homenagem ao 1º de Maio, Dia do Proletariado Internacional. Com o espírito elevado pela chama da solidariedade entre os povos explorados, convocamos toda a juventude estudantil e as massas trabalhadoras a se somarem conosco nos ciclos de estudos marxistas que promoveremos ao longo do ano.
Sabemos — como nos ensinaram os grandes chefes do proletariado internacional — que a prática é cega sem teoria, e que sem teoria revolucionária não há, nem haverá, movimento revolucionário capaz de romper os grilhões da exploração. Por isso, reafirmamos nosso compromisso com o estudo como arma da revolução, como ferramenta para temperar a consciência de classe e afiar as lanças da transformação.
Erguemos, com entusiasmo e fervor, nossa saudação combativa às massas proletárias do mundo inteiro, que seguem em luta contra a sanha voraz e parasitária do capital, marchando entre escombros e esperanças, com os punhos cerrados e os olhos voltados para o horizonte de uma Nova Humanidade.
Proletários de todos os países, uni-vos!
Coletivo Estudantil Filhos do Povo (CEFP)
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